quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Nós

A paisagem é sempre mais fácil. Lida-se melhor com os sobreiros do que com os homens, com as coisas do que com as pessoas. No entanto, trazemos conosco a necessidade vital de comunicar, e só o podemos fazer com quem é semelhante a nós.
Precisamos disso para nos localizarmos, para sabermos quem somos, para chegarmos a onde devemos chegar.
Podemos usar um objeto e deixá-lo fora quando já não convém, mas a relação verdadeira entre pessoas exige criar laços, mais ou menos profundos, e, depois, respeitá-los. Talvez uma das causas de o mundo estar tão triste seja que tentamos lidar com pessoas como com as coisas. Talvez isto tenha contribuído para que andemos tão perdidos, tão sem saber onde estamos. Usando as pessoas e, depois, talvez desiludidos, desfazendo-nos delas, começamos por perder o calor e a luz da amizade – que praticamente desapareceu da face da Terra. E, agora, estamos a perder a família.
Numa época em que uma noção errada da liberdade, muito divulgada, leva a não contrair vínculos e a quebrar com facilidade os vínculos contraídos, é oportuno recordar que a liberdade é, na sua forma maior, liberdade de nos amarrarmos. É nesse o significado de “criar laços”. Nestas terras, quando há casamento diz-se que aquele homem e aquela mulher vão “dar o nó”. Não perdem a liberdade: exercem-na da forma mais excelente, prendendo-se um ao outro definitivamente de livre vontade.
Não devemos ter pena do que “perdemos” quando escolhemos, pois isso faz parte da natureza da liberdade. Cada vez que escolhemos algo, sacrificamos as outras possibilidades. No fundo, sermos livres quer dizer que temos alguma autonomia para escolhermos de que forma vamos renunciar passar a vida fazendo aquilo que nos apeteça.
É através do compromisso – uma opção sem retorno que em alguns casos existe sem que tenha ficado escrita num documento – que nos ligamos ao amigo, ao esposo à esposa, a uma tarefa em conjunto com outras pessoas... E ligando-nos aos outros localizamo-nos. Se tens filhos, tens uma tarefa e, com ela, um lugar no mundo. E todos os teus passos estão cheio de sentido. Fugindo de te amarrares, poderá chegar o momento em que perguntes a ti mesmo o que estás aqui a fazer.
A liberdade é a grandeza de poder fazer escolhas. Mas, se essas escolhas não tivessem conseqüências, se nos permitíssemos voltar atrás em assuntos cuja natureza não admite isso, a nossa liberdade ficaria esvaziada. E estaríamos a anular a nossa personalidade, porque nós somos aquilo que fazemos com as nossas escolhas. É com elas que traçamos o nosso caminho e nos definimos.
É errado pensar que a vida é um jogo e que, se algo correr não exatamente de acordo com as nossas expectativas, podemos jogá-lo de novo desde o inicio, com novas oportunidades de êxito. Seria uma tolice considerar que temos direito a um caminho de triunfos, sem sofrimentos nem desilusões, sem coragem nem heroísmo. Porque isso não sucede a ninguém e não é deste mundo. Aqui é preciso escolher e, depois, seguir em frente até o fim. Por vezes com os ombros pesados de cansaço, de dor, de desilusão, de fracasso...
Aceitarmos as conseqüências das nossas escolhas, carregarmos com o peso delas, honrarmos a nossa palavra, tem o nome de responsabilidade. E só ela confere realidade à liberdade. Só a mulher responsável é autenticamente livre. A outra... joga; é ainda criança. Imatura, pouco mulher.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Os meus dias


Passo os dias à espera do amanhã...

E é tão impotente esta sensação de vazio.

Como as horas num relógio sem ponteiros.

Descompassando entre os nossos dias sem horários.

Sem palavras. Sem cores. Sem sorrisos. 

Sem nós. 

Passo os dias à espera do amanhã...

Um dia novo que me traga notícias dos teus dias.

Dias que passas longe de mim,

Entre pessoas que não conheço.

Sem emoções. Sem motivos. Sem momentos.

Sem nós. 

Passo os dias à espera do amanhã...

Um dia em que voltas sorrindo.

Esquecendo tudo o que não houve,

E colocas de lado, de forma irrepreensível, o que não foi dito.

Sem nós. 

Passo os dias à espera do amanhã...

Sonhando com a tua voz tranquila.

Com as poesias que fazes sem pensar,

Numa vida desencontrada que segue lenta em corredores estreitos.

Sem ternura. Sem coragem. Sem sonhos.

Sem nós. 

Passo os dias à espera do amanhã...

De me encontrar nos teus braços.

De me perder nas loucuras que dizemos,

Sem medir conseqüências do bem e do mal...

Com amor. Com paixão. Com sentimento.

Com os dois. 

Passo os dias à espera... de saber como será?

Passo os dias à espera... de ti! 

Efetivamente à espera...

Afetivamente uma dor.




sábado, 17 de dezembro de 2011

As andurinhas ainda vôam

A solidão me ronda, me persegue, me corroe.
É demasiado triste, demasiado doloroso a dor do não ter, a dor do não ser.
Ao cair da noite o apavoro das trevas me assusta, me corrompe, fazendo com que meu sono desapareça. Quem dera eu desaparecesse assim também.
Não, não tenho essa sorte.
Tão triste é a memória dos dias que não tive. Tão desoladora é a tristeza de uma vida vazia, morna. Desperdiçada a alma chora.
Já não aguento essa solidão.
Desejo o infinito, anseio o impossível, sonho com o improvável.
A minha mente é tão imprevisível que por vezes me assusta a medida que me conheço. O não ter não me entristece mais, não me atormenta, não me incomoda.
Cada dia que passa acredito menos em anjos. Anjos somos nós, anjos decaídos, anjos incrédulos, anjos demônios.
Assim a vida vai passando, as horas vão passando e vamos perdendo tempo. O tempo de viver, o tempo de ser feliz. Um tempo de construir uma família, um lar, um futuro.
Meu tempo acabou e as andurinhas ainda vôam.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Pessoas

Como se mede uma pessoa? Os tamanhos variam conforme o grau de envolvimento.

Ela é enorme para ti quando fala do que leu e viveu, quando se trata com carinho e respeito, quando olha nos olhos e sorri destravado. É pequena para nós quando só pensa em sim mesmo, quando se comporta de uma maneira pouco gentil, quando fracassa justamente no momento em que teria que demonstrar o que há de mais importante entre duas pessoas: a amizade.

Uma pessoa é gigante quando se interessa pela tua vida, quando procura alternativas para o teu crescimento, quando sonha. É pequena quando se desvia do assunto.

Uma pessoa é grande quando perdoa, quando compreende, quando se coloca no lugar do outro, quando age não de acordo com o que esperam dela, mas de acordo com o que espera de si mesma. Uma pessoa é pequena quando se deixa reger por comportamentos clichês.

Uma mesma pessoa pode aparentar grandeza ou miudeza dentro de um relacionamento, pode crescer ou decrescer num espaço de poucas semanas: será ela que mudou ou será que o amor é traiçoeiro nas suas medições? Uma decepção pode diminuir o tamanho de um amor que parecia ser grande. Uma ausência pode aumentar o tamanho de uma amor que parecia ser ínfimo.

É difícil conviver com esta elasticidade: as pessoas a agigantam e se encolhem aos nossos olhos. O nosso julgamento é feito não através de centímetros e metros, mas de ações e reações, e ao recolhê-la inesperadamente, torna-se mais uma. O egoísmo unifica os insignificantes.

Não é a altura, nem o peso, nem os músculos que tornam uma pessoa grande. É a sua sensibilidade sem tamanho.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Sonhos

Não se sabe o sentido de sonhar.
Tantas questões que pairam na cabeça e não sabe-se se é sonho, expectativa ou realidade.
Sonho na verdade serve para duas coisas: construir ou destruir.
Algumas vezes os sonhos são possíveis e motiva a agir de fora a atingí-los, nesse caso podemos dizer que eles constroem.
No entanto, eles podem fazer com que você se mova, mude, corra e veja que não tem como mais ir adiante. A partir daí eles estão destuídos. E pode ainda destruir o sonhador, levando-o a não sonhar um sonho como tal.
Complicado.
Sonhar é bom, realizar é mais ainda. Mas acima de tudo, o sonho é um risco. A frustração e o aprendizado de um sonho não concretizado, pode ser definitiva na construção ou não de novos.
De teimosia (ou obstinação), vale a pena continuar tentando sempre.



quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Explodiu


Essa inconstância, esse medo de amadurecer, esse apego ao passado. Tudo isso está escorrendo rapidamente pelos meus dedos. E não dá tempo de segurar isso novamente, não mais. É preciso ficar esperta pra agarrar com firmeza tudo o que está chegando e caindo direto em minhas mãos. Elas não podem estar abertas tentando resgatar o que já não tem resgate.

O ponto é que eu já nem sei mais o que é comodismo ou zona de conforto. Meus amigos antigos explodiram, foram um para cada lado, viver suas vidas. Meus compromissos são outros, minha agenda vive cheia, meu tempo ocioso me mata de tédio. Eis que não tenho mais motivo algum para me apegar tanto ao passado.

No caso, tudo está mudando, meus antigos sentimentos, minhas prioridades, meu foco. Já disse umas trezentas vezes: vou mudar! E parece que o mundo continua girando e me pedindo pra girar junto. São mudanças que não acabam mais. Hoje mais forte, mais determinada, menos chorona em alguns aspectos, mais segura em outros. Me desespero menos, converso menos, vivo menos fora da realidade. Meus pés estão no chão e minha cabeça está descendo das nuvens. Não tem mais nada que me agrade em suposições, em possibilidades inexistentes. Eu já não tenho mais motivos pra nenhuma dessas besteiras de se prender ao que não existe, ao que nunca vai existir. Passei muito tempo da minha vida me prendendo a pequenos fatos inúteis, a conversas sérias demais, ao que me desagradava. Eu não sabia fugir dessas situações, não sabia como era viver sem sentir dor.

Aí um dia eu descobri, eu vivi um dia inteiro sem sentir pontada alguma de sofrimento. Após um tempo eu consegui dois dias, três... uma semana. E quando a dor voltou, eu me desesperei. Fiquei com medo de que tudo que eu havia conseguido me livrar tivesse me sufocado novamente.

Mas eu respirei, levei um pouco de tempo, olhei ao redor e vi que nada havia mudado. Aquela realidade excruciante estava tão longe de mim, quase como se fosse um filme do qual eu não participasse. Eu simplesmente conseguir parar de chorar e seguir em frente. Mais uma vez com meu sorriso, com minhas decisões firmes. Ainda sinto um pouco do que era passado.

Mas hoje e agora eu tenho a certeza de que já não tenho toda aquela ansiedade, todos aqueles sonhos extremamente complexos. Não tenho mais nem as mesmas verdades de tempos atrás. O que permanece é a vontade de sempre haverem dias melhores.

Chega de me prender ao que não se prende por mim, de procurar vestígios de algo que não existe mais, de fazer birra pra Deus e o mundo por não querer crescer. Tá na hora e pronto. Vou crescer e o resto nem posso dizer que se exploda, já explodiu. Só eu não tinha notado antes.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Difícil Explicar

Decisão de caráter urgente implica isso mesmo, deixar que o instinto decida por nós o que o racional que habialmente regra os nossos passos se revela incapaz de se motivar. Sair, ao frio da noite, para o desconhecido, em busca de um local que nunca se viu para ir buscar o tal alguém que num momento negro, arriscou em cometer tamanha alarvidade.

E nesse belo dia, a balança pende para essa tal pessoa em detrimento de outra. E começa um outro drama, em que se torna complicado gerir a dedicação de parte a parte, em que o emocionado não admite/compreende/aceita que haja uma outra figura na mesma linha sentimentalista. Até que se apercebe que são mais.

Porque ao contrário de determinadas cordas bambas, há aqui uma delicada força mental à qual sou completamente alheia (o meu talento destrutivo matá-los-ia a todos em questão de nanossegundos), mas que por outro lado é completamente sustentada por uma vigência comum de muito tempo e conhecimento. E quem chegou mais tarde, até que a teia emocional lhe permita passar à frente na fila, irá ter que ficar no seu posto.

Claro que isto suscita ataques ao ego de qualquer um, sobretudo quando se trata já da minha habitual gélida presença.

Fear not, oh brave one. You wouldn't stand in that line for another moment it l'd not be strong enough to keep you there.

São estranhos desígnios. por vezes difíceis de explicar.